“BATE-PAPO” SOBRE PREVENÇÃO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA NAS ESCOLAS DE RESENDE/RJ

Na concepção da ONG EVOLUIR, a questão da dependência química necessita ser abordada nas etapas da prevenção, da reabilitação e reinclusão social, uma vez que a discussão sobre as drogas encontra-se presente em quase todos os lugares, podendo ser considerada como um problema epidêmico.
No que diz respeito à prevenção, umas das ações realizadas, pela ONG EVOLUIR, são os encontros informativos nas escolas, que visam levar conhecimento e informação sobre drogas e comportamentos de riscos que podem conduzir os jovens a entrar em contato com estas substâncias e até se tornarem dependentes químicos.

Desde muito cedo nossos jovens têm contato com esse tema, seja através da mídia, conversas em ambientes como a família, amigos, escolas e outros.
Sendo assim, torna-se importante o diálogo instrutivo para que essas informações, que chegarão até a criança e o adolescente, sejam abordados de maneira clara, com a finalidade de minimizar a tragédia que é o envolvimento com as drogas e as terríveis consequências delas advindas.

Essa comunicação deve ser organizada, desmitificada e esclarecida, principalmente em dúvidas que certamente surgirão entre o jovem, que se defronta com os obstáculos e inseguranças inerentes a esta fase da vida.
Nossas ações nas escolas são realizadas em parceria com a direção acadêmica, através da solicitação desta instituições, que por sua vivência percebem a necessidade de se mobilizarem para atividades extra curriculares, que abordem o tema sobre a prevenção do uso de drogas, uma vez que por si só não se sentem preparadas para tratar de assunto tão delicado.
Com seu projeto de prevenção a ONG EVOLUIR, possui conhecimento e estratégias que procuram de maneira acessível tocar no assunto da dependência química com estes jovens, sempre levando em consideração as particularidades de cada faixa etária.

Considerando que toda ação nesta fase necessita se moldar de forma atrativa para que possa despertar o interesse dos alunos, uma vez que este tema pode muitas vezes despertar resistência no interesse e atenção dos alunos em uma sala de aula.
São vários os métodos e instrumentos utilizados na execução desta ação, desde, filmes, projeções, dinâmicas, animações, jogos, entre outros, que procuram de forma prática despertar a interação do aluno com a ação e, ao mesmo tempo, oferecer um espaço para a reflexão crítica do papel da droga e suas consequências em uma construção de vida.
O diálogo procura partir do conhecimento prévio que os alunos já têm sobre o assunto, com a intenção de chamá-los a serem protagonistas da atividade, levantar o nível e a qualidade das informações que já possuem e promover o comprometimento com as reflexões que serão feitas, uma vez que são convidados a refletirem sobre o conteúdo exposto.

Várias são as posturas dos alunos observadas no momento da ação, conseguimos perceber alguns que demonstram interesse quase que de imediato, outros que de maneira esquiva resistem em participar e até a dar sua opinião quando solicitados.

Muitas vezes o desafio está no que aparentemente é o óbvio, “eles já podem ter noções que as drogas são um perigo”, e não desconhecem os seus efeitos nocivos, situação que pode atrapalhar o envolvimento do aluno neste diálogo, pois, este imagina que nada de novo pode resultar daquela conversa.

Nosso projeto, além de oferecer informações corretas, busca a sensibilização em relação à situação das drogas, ou seja, promover a empatia dos alunos com as histórias ali expostas, diminuir a distância, que possivelmente exista, entre o que esta sendo posto e a realidade de vida da pessoa.

O que chamamos de sensibilização, neste caso, e a aproximação não só da informação, mas do emocional do aluno em conformidade ao conteúdo discutido, que ele possa perceber que não estamos falando de algo que acontece somente com o “vizinho”, mas que está perto, muito mais perto deles, do que possam imaginar.

Um dos obstáculos que encontramos quando tratamos de temas como as drogas junto a adolescentes, é o de que nesta fase um sentimento de onipotência e invulnerabilidade pode fazer parte do modo como ele se representa e se posta diante de dificuldades.
O jovem pode achar que tem sempre o controle de sua vida e que sempre vai conseguir não ser atingido por qualquer mal, ou seja, com ele coisas do tipo “dependência em drogas” não acontecerão.
Este sentimento de onipotência faz parte desta fase do desenvolvimento e quando trabalhamos com adolescentes precisam ser levados em consideração.

Uma das formas que tentamos promover a conscientização emocional do aluno com o assunto, é através de exposições que estabeleçam uma identificação dele com outros adolescentes, que foram atingidos pela adicção e sofreram conseqüências.
Desta maneira ele pode considerar, observando um outro adolescente com problema, sua própria vulnerabilidade.
Outra forma de promover esta “sensibilização” e colhermos suas próprias histórias, solicitando depoimento de algum aluno sobre casos conhecidos e/ou que retratem o sofrimento verídico de alguém que ele conheça e que se envolveu ou está envolvido com drogas, esta ação mostra-se muito útil, pois, parte do próprio núcleo da classe, ou seja, não é o mediador quem fala mas eles próprios, assim, eles escutam sua própria voz.

Dentro das intenções do nosso projeto, visamos, também, o desenvolvimento da “análise crítica”, buscamos instrumentalizar o adolescente em sua capacidade de visão e avaliação mais profunda sobre a realidade que o cerca.

Solicitamos que, por exemplo, assistindo a uma propaganda sobre bebida alcoólica, ele associe os prazeres que a propaganda mostra ao uso da bebida, amigos felizes, lugares paradisíacos, mulheres e homens de boa aparência, lugares sofisticados, entre outros.
Eles conseguem perceber que estes fatores são colocados ali para que se agreguem á idéia de beber de ser realizado e estar de bem com a vida.

A partir do desenvolvimento do senso crítico, procuramos promover a generalização, ou seja, ajudamos em uma primeira avaliação, depois expomos outras e pedimos que eles por si mesmo, estabeleçam as associações propostas pela propaganda ao produto apresentado.
Vários são os questionamentos a respeitos de drogas, levantados pelos alunos, um dos mais delicados é o que se relaciona com o uso das substâncias lícitas, como o álcool e o cigarro.

Neste caso, novamente procuramos estimular o exercício do pensamento crítico, para a avaliação dos tipos de uso mesmo de maneira recreativa.
Por exemplo, tomar uma taça de champanha no natal é perigoso?
Nossa postura é diferenciar o uso esporádico e excepcional das substâncias lícitas, do uso abusivo e descontrolado que pode levar a uma doença que é a dependência química.

Outra questão muito presente é a da suposta capacidade de controle no uso de drogas. O jovem pode considerar-se no total domínio de suas ações e de seus comportamentos, e concluir que com “ele” a dependência nunca se estabelecerá.

Procuramos, novamente, o caminho da reflexão e desta maneira apontamos para um ponto frágil para quem faz uso da droga, a capacidade de distorcer o senso crítico, o domínio da vontade consciente e a capacidade de julgamento.
Para finalizar, gostaríamos de colocar nossa visão de que uma ação preventiva e pontual como esta, que propõe o diálogo com jovens em sala de aula, apesar de importante é somente uma contribuição na prevenção do envolvimento com as drogas e seus malefícios.

Temos a certeza de que no âmbito da prevenção outras ações devem ser integradas no conjunto de afirmações protetoras ao jovem em seu caminho para uma vida adulta produtiva.

São informações claras através da mídia, o envolvimento familiar no debate e orientação sobre o tema, a promoção de atividades alternativas que direcionem a energia do jovem para movimentos construtivos como cultura, arte, esporte e lazer, que constroem uma rede de prevenção e proteção ao jovem.
Não devemos esquecer que o jovem precisa, também, ser ouvido e valorizado em suas opiniões e visão de mundo, quando desejamos instrumentalizá-lo para prosseguir em seu caminho, desta maneira ele se sentirá como pertencendo a sua comunidade e responsável por seu destino.

FLÁVIO LUIS MARCONDES
Psicólogo Voluntário ONG Evoluir